Polícia volta a investigar caso de outra vítima de pediatra preso por estupro
A Polícia Civil vai voltar a investigar uma acusação de estupro, ameaça e lesão corporal contra o pediatra Raphael Derossi Ribeiro da Silva, de 44 anos. O inquérito, atualmente na 42ª DP (Recreio), será novamente remetido ao Ministério Público para o oferecimento de denúncia. A vítima é uma mulher que teve relacionamento com o médico e registrou a ocorrência em 2018. Segundo a Polícia Civil, Raphael chegou a ameaçá-la com uma faca. O caso chegou a ser enviado para o MP, mas os promotores pediram novas investigações e o inquérito retornou para a delegacia e não foi adiante. Agora, com a prisão de Raphael Derossi, a denúncia de crime voltará a ser apurada. Além dessa vítima, outras cinco mulheres alegam ter sofrido violências por parte do médico.
Na denúncia do MP que culminou na prisão do pediatra no último sábado, as seis são citadas. O primeiro caso foi registrado em 2001, por estupro. Ele, no entanto, foi suspenso por renúncia da parte, já que, à época, era permitida a retirada da queixa. O crime foi registrado na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio.
— Até 2009, a vítima podia retirar a acusação a qualquer momento. Entre 2009 e 2018, a vítima podia retirar (a queixa) durante o inquérito policial, e, oferecida a denúncia, iniciada a ação penal, a vítima não podia mais tirar. Já de 2018 para cá, a vítima não só não pode retirar em momento algum, e, mais que isso, se a polícia ficar sabendo da chance de ter tido um estupro, tem que instaurar o inquérito — explica o advogado criminalista Breno Melaragno, professor de Direito Penal da PUC-Rio sobre a mudança na legislação.
A segunda vítima procurou a polícia em 2008, também por estupro. O caso foi registrado na Deam de Jacarepaguá, mas foi arquivado por falta de provas. Questionado, o Ministério Público afirmou que o arquivamento foi homologado em definitivo pela Justiça. O motivo, porém, não foi informado.
Em 2012, o pediatra foi acusado de cometer novos crimes — lesão corporal e ameaça. Também registrado na Deam do Centro, ele chegou a ser remetido ao MP, mas não há informações sobre seu andamento.
A mulher que foi ameaçada pelo médico com uma faca registrou as agressões sofridas em 2018 na mesma unidade policial, mas o caso foi encaminhado para a 42ª DP (Recreio). À época, ele foi remetido ao MP, que pediu novas diligências à polícia. A vítima em questão e Raphael Derossi mantiveram um relacionamento por cerca de seis anos, tendo as agressões e a violência sexual ocorrido em março do mesmo ano do crime, enquanto os dois ainda estavam juntos.
A vítima que embasou a denúncia que levou à prisão do pediatra o acusou por estupro, estupro de vulnerável, lesão corporal e violência psicológica. Eles tiveram uma união estável entre 2018 e 2020, tendo os dois começado a relação pouco depois do término do médico com a vítima anterior. Segundo o relato da mulher à polícia, agressões verbais e insultos, que começaram pouco depois de se mudar para a casa do pediatra, deram lugar a puxões de cabelo, empurrões, tapas, socos, chutes e violência sexual. Entre as ofensas que proferia contra a vítima, ele chegou a dizer: “você tem que lamber o chão que eu piso”. O caso foi registrado em 2021 na Deam de Jacarepaguá.
A última mulher a registrar ocorrência contra Raphael Derossi alega ter sido estuprada em 2021, após ter conhecido o pediatra em um aplicativo de encontros e saído com ele pela primeira vez. A estudante X. tinha 18 anos quando marcou um encontro com Raphael em uma praça com bares no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, no dia seguinte após ter começado a conversar com ele pelo celular. Na ocasião, se encontraram, beberam algumas cervejas e, em seguida, foram para a casa do médico. Naquela noite, X. conta ter sido estuprada por ele.
Até esta quarta-feira, as delegacias onde os casos foram registrados não receberam novas denúncias contra o médico Raphael Derossi.
No Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), o nome do médico aparece como tendo situação ativa e o conselho informa que “abriu sindicância para apurar os fatos”.
Perguntada sobre o motivo de dois dos inquéritos contra o médico ainda não terem sido concluídos, a Polícia Civil informou que eles “já haviam sido relatados e retornaram para novas diligências”. Em um deles, as diligências necessárias já foram realizadas e o caso reencaminhado ao Ministério Público.
Sobre as denúncias contra o médico que não foram à frente o Ministério Público informou que a “aceitação ou arquivamento de denúncias ajuizadas devem ser apuradas junto ao TJ, que é responsável pela decretação da prisão”. O Tribunal de Justiça foi procurado para se pronunciar a respeito do andamento das denúncias apresentadas, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem.
(Reportagem publicada pelo jornal O Globo. Acesse aqui.)